Por Jailson Pinheiro
Já percebeu como tratamos o nosso Labor como algo penoso? Quem nunca ouviu ou mesmo pronunciou algumas destas frases ao se referir ao trabalho: Vou pra luta! Estou indo para a batalha! Estou indo para a Guerra! Parece que trabalhar é exatamente deixar de fazer algo bom para realizar algo impróprio, obrigatório ou vergonhoso. De forma mais direta parece um sentimento de morte, como se trabalhar colocasse em risco nossa integridade, nossa vida. Porquê será que alimentamos este sentimento?
Para iniciarmos uma reflexão recorremos ao dicionário para verificar o real significado de Trabalho e Luta:
*Trabalho – s. m. 1. Ato de trabalhar. 2. Qualquer ocupação manual ou intelectual. 3. Esmero, cuidado que se emprega na feitura de uma obra. 4. Obra feita ou que se faz ou está para se fazer.
*Luta – s. f. 1. Combate corpo a corpo. 2. Por ext. Briga. 3. Duelo. 4. Combate.
Agora percebemos evidentemente a diferença entre as duas palavras. Elas não se completam, não se afinam e, sinceramente, não combinam.
Mais uma vez irei recorrer ao conceito de condicionamentos sociais já abordados em outros artigos que escrevi. Procure visualizar a seguinte cena:
Uma família na qual os pais precisam sair para trabalhar (ou ir à luta?) e deixar seus filhos sozinhos ou sob cuidado de terceiros. Neste momento, o pai ou a mãe verbaliza a seguinte frase: Tchau, estou indo pra luta! Ou, Até mais, estou indo para Batalha! Ao retornar, o discurso não muda: Cheguei da luta.
Este pai ou esta mãe já possui o sentimento penoso, deprimente em relação ao trabalho. E, de forma condicionante, está transmitindo para seus filhos o mesmo sentimento. Perceba que os filhos irão associar a ausência dos pais à ida pra luta (ou seria ao Trabalho?). Aqui o trabalho não é apresentado como ocupação, esmero, com cuidado, como algo que se faz ou está por se fazer, com honra, dignidade, prazer, satisfação, com alegria. Então, a leitura que a criança fará é de que realmente o trabalho é algo penoso, cruel, que tira seus pais de casa e os obriga a combater, duelar, brigar durante o dia e se sobreviverem retornarão para casa.
Tudo isso é muito triste e também lógico. Estas crianças, que agora já entendem o quão cruel é trabalhar, enquanto adultas, assumirão funções, responsabilidades e necessitarão de trabalho (ou luta?) para que possam “sobreviver”.
Se não bastasse toda essa carga negativa sobre o trabalho que recebemos no âmbito familiar, a sociedade com seu discurso consumista fará com que o indivíduo constate na prática que o trabalho realmente não será algo bom. Ele precisará trabalhar (ou lutar?) muito para conseguir se manter, pagar seus impostos, suas contas, comer, se vestir, construir e verá que o que recebe em troca pelo trabalho (luta), não será suficiente. Neste instante, o nível de sentimento negativo em relação ao trabalho alcança seu ápice.
Começamos a entender o provável motivo de abordarmos o Trabalho com tanto desdém.
Como temos o péssimo hábito de transferir para aos outros nossas angústias, desilusões e fracassos, não seria diferente neste caso. Só que aqui quem recebe a carga de culpa é o trabalho.
Certamente você pode não gostar do seu trabalho, do seu chefe, dos seus colegas, da empresa na qual trabalha. Talvez, por qualquer motivo, você tenha abandonado um grande sonho profissional e está trabalhando (lutando) em uma área imprópria para suas habilidades, seus sonhos.
Desculpe a franqueza, mas nesta situação o seu trabalho é tão vítima quanto você. E se decidir encontrar culpado, este será você mesmo. O trabalho, a profissão, o ofício nunca serão responsáveis pela sua insatisfação.
O trabalho dignifica o homem. É através do nosso trabalho que encontraremos condições para concretizar nossa principal missão enquanto vivos: Ser Feliz.
Não quero afirmar que você só será feliz se trabalhar. Estou afirmando que deverá assumir seu trabalho como condição de felicidade. Ou seja, você será feliz fazendo o que gosta, fazendo o que sabe fazer bem. Isso sim é trabalhar.
Por isso, a partir de agora, ao sair da sua casa para ir trabalhar, lembre-se de ter cuidado sobre o que dirá sobre seu trabalho aos seus pais, aos seus filhos, ao seu cônjuge.
Um forte abraço e Vamos trabalhar!
Um fraterno abraço,
Prof. Jailson Pinheiro
Educador, Psicoterapeuta, Neurocientista membro da SBNeC – Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, baiano, Jailson Pinheiro é Comendador através da Ordem do Mérito Americano (ORDER OF AMERICAN MERIT MEMBER). Criador da Abordagem Neuroemocional, da Terapia Neurossistêmica, da Análise Emocional e da Leitura Emocional em Desenho Infantil e Adulto. Formador e mentor de profissionais de alta performance no Brasil e no exterior.