Ser Indisponível?
Por Jailson Pinheiro*
Já percebeu que gostamos muito daquilo que não temos? É como se projetássemos nossa vida alicerçando-a em coisas, em pessoas que não temos, com quem não podemos contar, que não nos ajudarão, que não estão disponíveis para nós. Esta situação se agrava à medida que começamos a esperar dos outros, das coisas, daquilo que não temos, o que na prática eles não ofertarão. E esta oferta não acontecerá pelo simples motivo de que os outros não sabem o que oferecer, ou não sentem a necessidade, a obrigação de conceder algo que eles nem sabem que possuem, mas por não saberem que esperamos algo deles.
Após confraternizar o dia internacional da amizade, com um grupo de amigos, me deparei com a seguinte situação:
Assistindo a um telejornal, destes que louvam a inalterabilidade, acompanhei uma reportagem sobre o sacrifício que fãs faziam para participar do show de uma determinada artista. Viajaram vários quilômetros, acamparam em frente ao local do evento, se submeteram ao frio, chuva, desconforto, insegurança… Tudo para ver, mesmo que distante, a artista.
O primeiro sentimento que me veio foi de pensar que estas pessoas são loucas, desocupadas, fanáticas e até desiquilibradas. Mais procurei analisar por outro ângulo: Porquê estas pessoas fizeram e fazem este tipo de sacrifício? Resposta: Por que elas não possuem esta pessoa. Ou, porque esta artista esta INDISPONÍVEL para estas pessoas.
Se pudéssemos entrevistar estas pessoas que foram participar deste show, certamente descobriríamos que algumas delas possuem parentes, amigos que moram distantes, ou que estão infernos, internados em hospitais, ou debilitados em casa carentes de uma visita, de uma palavra amiga. Aqui pergunto: Será que estas mesmas pessoas que se submeteram aos sacrifícios já citados, fariam tudo isso para ir visitar seu parente, seu amigo? E porque não fariam? Cruelmente eu diria que não iriam, não fariam tais sacrifícios porque já possuíram, ou possuem esta pessoa, que agora esta distante ou doente.
Mencionei este fato – que pode até parecer cruel – para reforçar a ideia que desejo compartilhar neste texto. Inacreditavelmente não damos valor ao que temos. E isso chega a parecer loucura se constatarmos que investimos cada segundo do nosso valioso tempo para exatamente conquistar, coisas, pessoas. E quando conseguimos parece que elas viram dêmodê.
Seguindo esta linha de raciocínio chegaremos à outra conclusão ainda mais alucinada: Se quero me tornar importante, almejado, apetecido, devo ser e estar INDISPONÍVEL. Exatamente isso! Sendo indisponível estarei me tornando desejado. Parece loucura, mais é assim que assumimos e consideramos as coisas, as pessoas.
Fatos simples comprovam este nosso equívoco. Lembre-se daquele velho jargão popular que diz que “Santo de casa não faz milagre”. Isso é um grande erro. O santo será santo em qualquer lugar. Seu poder milagreiro será o mesmo. O que mudará são as pessoas que o receberão ou perceberão seus feitos. Ou seja, não faltam “santos” em nosso redor, falta é percepção, sensibilidade em identificar nas pessoas do nosso convívio seus talentos, suas potencialidades, seu sucesso.
Analise seus amigos, parentes, alunos, colegas de trabalho e comece a perceber que poderá estar cercado de pessoas talentosas, belas, carismáticas, ou que possuem qualquer outro diferencial, mais que ainda carecem de algo que você poderá ofertar: RECONHECIMENTO.
Precisamos reconhecer e valorizar as pessoas, as coisas que temos, que estão ao nosso lado, ao nosso dispor. São estas as pessoas e coisas com as quais devemos contar em nosso cotidiano. Aquele artista, aquela pessoa famosa que foi lapidada pela mídia, que não nos conhece, esta pessoa não irá nos ajudar, não estará ao nosso lado quando precisarmos de um abraço, de uma palavra amiga, de um sorriso. Esta pessoa não nos pertence, ela esta INDISPONÍVEL.
Não quero ser nem estar indisponível! Quero é ver, ter, estar e conquistar pessoas! É assim que me realizo. É assim que preciso viver! É assim que quero ser reconhecido e é assim que quero reconhecer!
Um fraterno abraço,
Prof. Jailson Pinheiro
Educador, Psicoterapeuta, Neurocientista membro da SBNeC – Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento, baiano, Jailson Pinheiro é Comendador através da Ordem do Mérito Americano (ORDER OF AMERICAN MERIT MEMBER). Criador da Abordagem Neuroemocional, da Terapia Neurossistêmica, da Análise Emocional e da Leitura Emocional em Desenho Infantil e Adulto. Formador e mentor de profissionais de alta performance no Brasil e no exterior.